O Paraná Centro esteve na cela das mulheres que se encontram detidas na
54ª Delegacia de Polícia de Ivaiporã. Algumas foram detidas na tentativa
de passar com drogas para serem entregues aos companheiros ou
familiares.
O ambiente (4.40 x 2.70 metros) é claustrofóbico e
abriga 13 mulheres, que cometeram os mais variados crimes. Homicídio,
furto ou tráfico são exemplos de delitos. Elas dividem três beliches e
lamentam quando há mais detenções, uma vez que o espaço é pequeno.
No
escasso espaço, elas tentam organizar as próprias roupas, calçados e
produtos de higiene/limpeza. A pedido do delegado, Algacir Antônio
Ramos, que pretende ampliar a cela, elas aceitaram partilhar o que as
levou estar naquele ambiente, mediante a omissão dos verdadeiros nomes.
Por isso, o semanário lhes atribuiu pseudônimos.
Vida em comum
Rafaela,
que tem 23 anos, foi detida acusada de homicídio supostamente cometido
em 2011. Se por um lado ela lamentou o tamanho da cela, por outro,
defendeu o clima de amizade, apesar da solidão coletiva e do futuro
incerto. “Gostaria de sair da prisão e não ser transferida de Ivaiporã”.
Ela disse que irá a júri popular acusada de homicídio e afirmou que
sente saudade dos 5 filhos (um menino de 10 anos, gêmeos de 6 anos, uma
menina de 2 anos e um menino de 1 ano). “Passei a dar mais valor aos
meus filhos, após a detenção. Acredito que, um dia, terei uma vida
digna. Tenho consciência que errei e espero ter uma segunda chance”.
Patrícia
tem 23 anos e foi presa acusada de tráfico de drogas. “Tentei entrar na
Delegacia de Ivaiporã com maconha, há um ano, e acabei caindo. A droga
seria entregue ao meu ex-marido, que se encontra detido”. Movida
alegadamente pelo amor, ela garantiu que, atualmente, não voltaria a
cometer o delito. “Quero ir embora... É difícil viver aqui e piora
quando caem mais mulheres, porque não há espaço para dormir”.
Ela
partilhou opinião semelhante garantindo que o clima é bom entre as
presas. Porém, lamentou a ausência da família que foi vê-la apenas uma
vez. “A minha família me visitou apenas uma vez, há um ano, e não
retornou. Após a prisão, aprendi que liberdade não tem preço”,
reconheceu Patrícia.
Carol tem 29 anos, 3 filhos e também foi detida
por tráfico. Ela tinha dois irmãos detidos na Delegacia de Polícia de
Ivaiporã, onde teriam passado a dever aos companheiros de cela. “Por
isso, passei a vender drogas para poder pagar as contas deles, porque
eles eram ameaçados”. Carol foi condenada a 14 anos de prisão, após ter
sido apanhada numa escuta telefônica por tráfico de drogas. Ela lamentou
não haver redução de pena, mediante serviço ou curso oferecido na
prisão. “Se tivesse serviço ou curso, a justiça poderia reduzir a pena,
porque é deprimente ficar num pequeno espaço e sem ocupar o tempo”,
sugeriu Carol, que assegurou ter passado a dar valor aos familiares e a
liberdade.
Tráfico por afeto
Conforme Algacir Ramos, a
maioria das mulheres é detida por tráfico de drogas. “Elas tentam
passar com drogas para os filhos, irmãos e principalmente para os
maridos. As mulheres – maioria jovem – trazem drogas, porque temem
perder os maridos! A princípio, elas relutam. Mas, quando eles ameaçam
que não é preciso voltar para revê-los, elas cedem por pressão. No
entanto, não é prova de amor. É um risco”.
Entre as detidas, há uma
com 72 anos, e as demais variam de 18 a 30 anos. “Metade delas foi
condenada e as demais foram presas recentemente”, disse o delegado.
Algacir
Ramos lembrou que as detidas são de famílias humildes. “Elas não têm
alternativa, porque não estudaram. Ou seja, vivem naquele dilema: rui
com ele [marido], pior sem ele. O que é inadmissível! Mas é a realidade.
Elas cedem às chantagens, porque têm filhos com os detidos”, lamentou o
delegado.
Algacir Ramos estuda reforma e ampliação da Delegacia de Polícia
Na
semana passada, o delegado da 54ª Delegacia de Polícia Civil de
Ivaiporã, Algacir Antônio Ramos; o presidente do Conselho Comunitário de
Segurança de Ivaiporã (Conseg), David Soares Ruas; e o empresário
Edmilson Boscardim conversaram sobre a reforma e ampliação que visam
oferecer espaço para investigadores, advogados e um ambulatório, onde os
presos poderão ser atendidos sem a necessidade de transportá-los ao
Hospital Municipal.
Além disso, a carceragem feminina, que tem 4.40 x
2.70 metros, ganhará um pouco mais de espaço. A ideia é construir camas
de cimento – atualmente há três beliches –, o que proporcionará mais
espaço para guardar objetos pessoais e produtos de higiene/limpeza.
Boscardim,
que foi convidado a apresentar um orçamento, explicou que as condições
de alguns ambientes da Delegacia de Ivaiporã são precárias. “As visitas
não têm banheiro, por exemplo. E, na cela feminina, o ideal seria
construir beliches, porque proporcionam mais espaço”.
Boscardim fez
um estudo das alas existentes, que precisam de melhorias, enquanto a
Consvale fez um projeto para os ambientes a serem construídos.
CRÉDITOS PARANÁ CENTRO - REPORTAGEM PARANÁ CENTRO
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