segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Em Ivaiporã, 13 mulheres dividem uma cela pequena e com pouca luz

O Paraná Centro esteve na cela das mulheres que se encontram detidas na 54ª Delegacia de Polícia de Ivaiporã. Algumas foram detidas na tentativa de passar com drogas para serem entregues aos companheiros ou familiares.
O ambiente (4.40 x 2.70 metros) é claustrofóbico e abriga 13 mulheres, que cometeram os mais variados crimes. Homicídio, furto ou tráfico são exemplos de delitos. Elas dividem três beliches e lamentam quando há mais detenções, uma vez que o espaço é pequeno.

No escasso espaço, elas tentam organizar as próprias roupas, calçados e produtos de higiene/limpeza. A pedido do delegado, Algacir Antônio Ramos, que pretende ampliar a cela, elas aceitaram partilhar o que as levou estar naquele ambiente, mediante a omissão dos verdadeiros nomes. Por isso, o semanário lhes atribuiu pseudônimos.

Vida em comum
Rafaela, que tem 23 anos, foi detida acusada de homicídio supostamente cometido em 2011. Se por um lado ela lamentou o tamanho da cela, por outro, defendeu o clima de amizade, apesar da solidão coletiva e do futuro incerto. “Gostaria de sair da prisão e não ser transferida de Ivaiporã”. Ela disse que irá a júri popular acusada de homicídio e afirmou que sente saudade dos 5 filhos (um menino de 10 anos, gêmeos de 6 anos, uma menina de 2 anos e um menino de 1 ano). “Passei a dar mais valor aos meus filhos, após a detenção. Acredito que, um dia, terei uma vida digna. Tenho consciência que errei e espero ter uma segunda chance”.

Patrícia tem 23 anos e foi presa acusada de tráfico de drogas. “Tentei entrar na Delegacia de Ivaiporã com maconha, há um ano, e acabei caindo. A droga seria entregue ao meu ex-marido, que se encontra detido”. Movida alegadamente pelo amor, ela garantiu que, atualmente, não voltaria a cometer o delito. “Quero ir embora... É difícil viver aqui e piora quando caem mais mulheres, porque não há espaço para dormir”.

Ela partilhou opinião semelhante garantindo que o clima é bom entre as presas. Porém, lamentou a ausência da família que foi vê-la apenas uma vez. “A minha família me visitou apenas uma vez, há um ano, e não retornou. Após a prisão, aprendi que liberdade não tem preço”, reconheceu Patrícia.
Carol tem 29 anos, 3 filhos e também foi detida por tráfico. Ela tinha dois irmãos detidos na Delegacia de Polícia de Ivaiporã, onde teriam passado a dever aos companheiros de cela. “Por isso, passei a vender drogas para poder pagar as contas deles, porque eles eram ameaçados”. Carol foi condenada a 14 anos de prisão, após ter sido apanhada numa escuta telefônica por tráfico de drogas. Ela lamentou não haver redução de pena, mediante serviço ou curso oferecido na prisão. “Se tivesse serviço ou curso, a justiça poderia reduzir a pena, porque é deprimente ficar num pequeno espaço e sem ocupar o tempo”, sugeriu Carol, que assegurou ter passado a dar valor aos familiares e a liberdade.

Tráfico por afeto
Conforme Algacir Ramos, a maioria das mulheres é detida por tráfico de drogas. “Elas tentam passar com drogas para os filhos, irmãos e principalmente para os maridos. As mulheres – maioria jovem – trazem drogas, porque temem perder os maridos! A princípio, elas relutam. Mas, quando eles ameaçam que não é preciso voltar para revê-los, elas cedem por pressão. No entanto, não é prova de amor. É um risco”.
Entre as detidas, há uma com 72 anos, e as demais variam de 18 a 30 anos. “Metade delas foi condenada e as demais foram presas recentemente”, disse o delegado.

Algacir Ramos lembrou que as detidas são de famílias humildes. “Elas não têm alternativa, porque não estudaram. Ou seja, vivem naquele dilema: rui com ele [marido], pior sem ele. O que é inadmissível! Mas é a realidade. Elas cedem às chantagens, porque têm filhos com os detidos”, lamentou o delegado.

Algacir Ramos estuda reforma e ampliação da Delegacia de Polícia

Na semana passada, o delegado da 54ª Delegacia de Polícia Civil de Ivaiporã, Algacir Antônio Ramos; o presidente do Conselho Comunitário de Segurança de Ivaiporã (Conseg), David Soares Ruas; e o empresário Edmilson Boscardim conversaram sobre a reforma e ampliação que visam oferecer espaço para investigadores, advogados e um ambulatório, onde os presos poderão ser atendidos sem a necessidade de transportá-los ao Hospital Municipal.
Além disso, a carceragem feminina, que tem 4.40 x 2.70 metros, ganhará um pouco mais de espaço. A ideia é construir camas de cimento – atualmente há três beliches –, o que proporcionará mais espaço para guardar objetos pessoais e produtos de higiene/limpeza.

Boscardim, que foi convidado a apresentar um orçamento, explicou que as condições de alguns ambientes da Delegacia de Ivaiporã são precárias. “As visitas não têm banheiro, por exemplo. E, na cela feminina, o ideal seria construir beliches, porque proporcionam mais espaço”.
Boscardim fez um estudo das alas existentes, que precisam de melhorias, enquanto a Consvale fez um projeto para os ambientes a serem construídos.

CRÉDITOS PARANÁ CENTRO - REPORTAGEM PARANÁ CENTRO

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